01/12/07

Cronicando 3 (Kala Uenda)

Kala Uenda

Por: Custódio Fernando Armando*
Vula Magina de Aleluia
In: Denuncias

Kala Uenda. Estas duas palavras de significado bastante elucidativo são empregues normalmente juntas para formar um provérbio muito usado por pessoas da minha terra. O leitor poderá achar exagero da minha parte ao saber da causa que me faz empregar justamente no início deste parágrafo.

Na verdade esta frase é utilizada para dizer que só aprendemos várias coisas se eventualmente andarmos. E isto é tão óbvio que ninguém nunca aprendeu nada por estar num só lugar. Não sendo contraditório às leis da mãe natureza, incentivado por pessoas amigas embora já tenha sido naquele dia minha intenção, decidi abrir as mãos que mais pareciam de vaca e lá fui reservar uma mesa em uma das casas nocturnas desta urbe. Até aí tudo bem.

A noite ia à dentro num ambiente fraterno entretido com álcool e cigarro à mistura, claro que eu não estava a espera de encontrar um pastor dando sermão a jovens reunidos em retiro espiritual. Para a minha admiração encontrei um Pastor que até conheço de outros Carnavais; já o vi orar pedindo bênção Celestial a favor de nossas vidas pecadoras. Mas naquela noite o Pastor lá estava com o mesmo objectivo que eu: Dar de César o que é de César. Num momento me perguntei se o pastor tinha esposa e se a esposa podia estar naquele mesmo local tal como ele.

Mas só pensei por algum momento. Depois reflecti que estava aí para me divertir e não para controlar a vida dos outros. E como dizia a minha mãe, a salvação é individual. Ainda mal acabava de raciocinar, e enquanto virava para o lado contrário, mais um fenómeno. Ou pelo menos, seria fenómeno há duas década atrás quando os verdadeiros valores sociais eram ainda respeitados, tudo porque os menores não tinham outro jeito se não obedecer e trilhar pelas peugadas de quem já muito viveu. Pois eu lá estava vendo num mesmo cenário qualquer coisa como três gerações diferentes em busca da diversão.

Em tempos lá idos, estes tempos que nem se quer eu vivi, existiam locais exclusivos para cada faixa etária. Hoje as coisas mudaram tanto que na mesma discoteca, podemos encontrar pessoas com idades compreendidas entre os treze, que é um absurdo, e os cinquenta á sessenta que já é um exagero.

O escândalo que vi entristeceu-me de tal maneira, que me arrependi de estar aí. Me questionei sobre como pode estar num local tão confuso, um menor de idade? Tão menor que a menina aparentava ter seus doze ou treze anitos. Onde estariam os pais? Recordei-me que já pulei a janela enquanto mais novo. Mas não era para a discoteca que eu ia. E assim como eu, muitas das pessoas que viveram naquele tempo e em mesmas condições que eu, já se calhar levou surra por sair a salto de cavalo porque queria ficar fora com os amigos brincando a lua cheia ou porque queria ver a novela na casa do vizinho já que não possuía em casa um televisor e se possuía era a velha maquina de madeira com ecrã a preto e branco que não arrancava com a energia que infelizmente temos em Angola onde luz de vela é mais iluminante. Mil e uma ideia rolaram sobre minha cabeça que fiquei a pensar que talvez fosse melhor dançar para esquecer. Mas como esquecer se no momento me via no mesmo local com alguém que parece meu pai e com alguém que parece minha irmã menor? Mas isso não só acontece em minhas terras; e como disse no princípio do texto, Kala Uenda. Temos que andar para ver e saber.

* Radialista e Escritor

1 comentário:

Orlando Castro disse...

Tomo a liberdade de sugerir a leitura de http://www.altohama.blogspot.com aguardando, se possível, a análise do mesmo.

Kandandu

Orlando Castro