01/11/11

Mas, e o Kuduro?



Seria regionalismo exagerado pedir que o Kuduro fosse considerado propriedade imaterial de Malanje. Com os malanjinos fica apenas o reconhecimento pelo fato de o “criador” do estilo musical ser de lá, embora, ele mesmo tenha assumido em entrevista a TPA (televisão pública de angola), que nasceu no Moxico e que somente foi criado nas terras da palanca negra gigante. E isso ninguém pode duvidar: Tony Amado cresceu em Malanje, e foi justo na Rua 15 de Agosto que todos o vimos competir em torneios de MotoCross ao volante de uma Simpson mantendo sempre a tradicional ultima posição e onde ganhou o apelido de Tony Cabeça. Todo o malanjinos sabe desta história. E foi também em Malanje que o vimos desenvolver suas técnicas de danças inicialmente imitando o glorioso Michael Jackson, assim como vários outros jovens e adolescentes da época como é o caso de Kajihadi e Tony (este ultimo, morreu por acidente de mina arredores do aeroporto de Malanje; Mas esta é outra história e não tem nada a ver com o Kuduro).

O que poucos param para pensar é que talvez o kuduro tenha nascido na simples intenção de se adaptar a musica que vinha de fora (técno ou musica eletrônica), uma linguagem bem mais angolana. O que quero dizer, amigos, é que Tony Amado quando fez o primeiro Kuduro, não o fez já pensando no impacto que tem hoje. Aliás se bem me recordo, nasceu apenas como dança. Quem ouvir hoje o hit “I like move, move”, parte da trilha sonora do filme de animação Madagascar lembrará que nos idos anos de mil novecentos e noventa, cantávamos acompanhados pelo instrumental da musica adaptando uma letra que dizia “comi papa de fuba de milho”. Mais uma vez lembro, terá nascido assim o kuduro.

Daí as coisas foram apenas seguindo o curso do que se pretendia naquele tempo em que a situação do país estava caótica e que tudo que precisávamos era de cantar para esquecer as mágoas, cantar para ignorar que minutos antes só se ouviam os assobios dos morteiros BM21 e as estridentes rajadas das PKM.  Assim nasceu o kuduro como dança, assim como nasceu o mbrututo, gato preto, açúcar dentre outros estilos de dança “inventados” por jovens criadores como Angelo Boss, Caló Pascoal, Rei Weba e claro o Tony Amado que com ajuda de Sebém conseguiram fazer com que o Kuduro sobrevivesse à guerra e deixasse para trás os outros estilos de dança. Assim eram as coisas já no final dos anos noventa, onde Sibém surge com o hit “a felicidade – todos nós queremos” só para citar um. Mas esta é a história do kuduro contada por quem ouvia independente dos autores. Sim, quem ouvia, ouvia de tudo, de Tony Amado a sibém, passando por Queima Bilhas, Se Mal, Fofandó e Puto Prata, Noite e Dia e Mestre Yara. Ouviamos tudo e víamos dançarinos como Gato Vaiola dançando o que era naquele tempo spider (era assim que conhecíamos o kuduro onde o que hoje é letra ou “rimas” era conhecido como “nóias”). E de nóias com certeza Ninguém vencia o Sibém. E Imagino que até hoje ninguém consegue (?).

De lá para cá muitos autores de musicas que ficaram na boca do povo, passaram por este caminho tão duro quanto o kuduro. Muitos passaram e embora não tenham ganhado projeção nacional, fizeram sucesso entre os seus. E eu conheci uma data deles. Vi-os gastarem dinheiro para gravarem musicas que até hoje não tocaram em rádios nem foram ouvidas em shows. Mas eles gravaram e assumem-se kuduristas. Perguntem nomes de alguns aos Djs que ganharam e continuam ganhando a vida gravando instrumentais para kuduro. Em Malanje conheci vários, vou citar o Dj Pita Bué, Dj Inglês, e o conceituado DJ Surround.
Na caixa ao lado esta um dos mais aclamados debates entre Tony Amado e Sibem no programa Tchilar do Canal 2 da TPA.

E é por isso que quando a discussão é sobre quem é o rei do Kuduro, e para onde vai o estilo musical que hoje cria inveja em muitos lugares, Tony Amado enche o peito e diz que através da sua criação, gerou emprego para muitos jovens. Alguém vai duvidar? Logo, já que seria regionalismo de mais pedir que o kuduro fosse considerado patrimônio imaterial de Malanje, peço que seja considerado de Angola. Afinal, independente da província em que se criou ou de onde ganhou mais notoriedade, seguidores e promotores, hoje é o estilo musical que faz com que muitos queiram conhecer Angola.

2 comentários:

Bárbara Igor Ovalle disse...

parabéns pelo post! tem muitas coisas a gente nem sabe!

aguante malanjeeeee!

abs desde Chile.

Custódio Fernando disse...

Obrigado pela visita Barbara Igor-Ovalle.

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