30/10/07

Cronicando 2

Saudade do Funge com Kizaca e Bagre do Kwanza


Por: Custódio Fernando Armando
“Vula Magina de Aleluia”
In: No Zuelar Calmamente.

Uma amiga minha, pediu-me que escrevesse algo “tipo” crónica que demonstrasse o meu real sentimento que por esta terra tenho; MALANJE. Caricato, é saber que muito eu tenho que falar sobre assunto, mas nunca me interessei escrever. Não sei se por desleixo, ou porque enquanto cá estamos não damos o devido interesse nem conseguimos enxergar o que de melhor estamos a aproveitar. Até pode ser!

Perguntem ao amigo Victor Hugo Mendes e a todos os filhos da terra ausentes por motivos vários, quanta saudade sentem da terra! Pois não duvidarei se me disserem que a saudade não existia enquanto cá estiveram, digo mesmo, enquanto ainda tinham disponível o bom funge de bombó de Caculama e a Kizaca do Lombe com carne abatida ou bagre do Kwanza. Afinal, quem bebe água suja diante da fonte?

Infelizmente, muitos são os jovens que emigram, buscando novos horizontes aí onde for possível já que a “terra mãe” além do funge e da Kizaca e de toda sorte de coisa que mais tarde sentimos saudades, oferece poucas opções de escolha. Com o “advento da paz”, que muitos políticos exaltam, já é possível ver alguma luz no fundo do túnel concernente ao “desenvolvimento” económico social pois é evidente o esforço de quem de direito para a melhoria da situação, apesar de que muitas vezes nos esquecemos que a luz no fundo do Túnel pode estar a se aproximar de nós ou o contrário; Afastar-se. Se é que estou certo, até porque desde a última promessa passam já cerca de três anos, a pergunta com relação a implantação do ensino superior continua sendo o grande calcanhar de Aquiles para todo governante do mais alto nível que por estas terras passa. Não sei se por receio, ou porque as coisas não estão fáceis mesmo. – Receio de que com a presença do ensino superior estaremos criando uma geração de “intelectuais” que um dia já com os olhos abertos, poderão questionar-se sobre tudo aquilo que a eles pertence. Ou porque não está a ser fácil para CIMANGOLA, produzir cimento suficiente para construir infra-estruturas habitacionais para os possíveis docentes dos núcleos universitários supostamente planificados para Malanje.

Sei que não passo de um “miúdo atrevido”, além do mais não era minha intenção falar de tal assunto, mas como disse antes, foi-me solicitado para que falasse sobre a minha terra. E como saco vazio em pé não fica, como quer a minha AMIGA que eu fale sobre Malanje sem que toque neste assunto? Desculpem-me mas não consigo somente falar da Kizaca que pito com funge e Bagre do Kwanza enquanto que um “Bicho Chato” não me deixa confortavelmente deliciar-me da boa “fubada”. Como resultado estou igualmente me vendo às portas de Malanje, convites não faltam logicamente. Afinal, Malanjino já nasce com a quarta classe. E apesar de termos a fama de sermos rebeldes, muitos são os apreciadores do bom trabalho que não dispensam um “Malagueta” ao seu lado; não porque somos mão de obra barata – lembrem-se que nem o colono conseguiu nos dominar – mas porque desde cedo aprendemos que só o trabalho eficiente dignifica o homem.

Aproveito, neste escritos “tipo” crónica, para responder ao kota Nelo de Carvalho, outra vitima da saudade do Funge com Kizaca do Lombe e Bagre do Kwanza, que em seu email me perguntou sobre as novidades de Malanje e das obras do nosso “sitio”. Respondendo, deixa-me lembra-lhe daquela calça que com certeza Ele também deve ter usado a chamada “sucula zuata”, que mais tarde de tanto uso a cada remendo que emendássemos, outro “buraco” acabava se criando…

… Vamos esperar. O “número 1” da nação, pediu em seu discurso que se empreendesse maior “dinamismo”. Oxalá que o tal “dinamismo” contagie o ministério da educação enquanto ainda restam jovens dispostos a lutar por esta terra, no sentido de combatermos a saudade do Funge de Bombo de Caculama, Kizaca do Lombe e Bagre fumado do Kwanza.

Bem haja Malanje… eu ainda Volto.



* Escritor e Radialista.
E Se beber fosse Campeonato?

Custódio Fernando *

Não se precisa ser um especialista em sociologia, para darmos conta de quão alcoolizada esta a sociedade angolana nos dias de hoje.

Quando há alguns dias decidi abandonar os escritório e dar com as vistas as artérias da minha cidade. Deparei-me com uma multidão cujo primeiro segurava ao colo uma menina que aparentava ter seus doze anitos. A primeira vista parecia que a criança teve um desmaio por algum problema de saúde. Bem, realmente desmaio teve mas não foi por problema de saúde. A multidão aproximava-se e era notável o nível de preocupação no rosto do senhor que a “liderava”, num números de quinze elementos entre familiares, vizinhos e até aquelas pessoas curiosas que com certeza queriam assistir de perto o desfecho da história da menina desmaiada.

Simultaneamente acabava de encostar bem em frente da multidão, um carro cujo dono é um director de uma unidade bancária em Malanje. E quando os espectadores pensavam que o tal “senhor” os havia de ajudar ou pelo menos tentar se inteirar sobre o que se passava, simplesmente fez ouvidos de mercador e nem se quer olhou ou pelo menos fingiu que não. No momento pensei logo numa história que minha falecida mãe me contava sobre o rico e o pobre. Mas esta também é uma outra história.

E sob olhar atendo dos curiosos que já tentava perguntar o que se passava, vimos a multidão desviar-se em direcção a um quintal onde num instante pensei que houvesse enfermeiro ou coisa assim, uma vez que temos em Angola um médico para cada mil habitantes, não era de esperar que aquilo fosse a casa do “médico da família” coisa que em Angola e para a maioria dos cidadãos não existe. A multidão desviou não em busca de enfermeiro; e porque Deus é mais Grande que a própria ignorância do “senhor director”, felizmente estava já em direcção ao seu carro o vizinho “visitado” que parecia já estar a esperar uma emergência.

E porque o comboio não espera passageiro, na medida que a multidão tentava convencer o dono do carro no sentido de apoia-los até ao hospital, eu continuava o percurso da minha caminhada em busca de ares fora dos escritório. Verdade seja dita, isso não me impediu de ouvir sobre o que realmente aconteceu momentos antes do certame. A menina emporcalhou-se com Whisky Dri Gin. Naquele momento e porque os primeiros socorros salvam vidas, algumas pessoas algo dotadas na matéria de desintoxicação alcoólica, aconselhavam a comitiva em fazer a paciente ingerir ovo cru no sentido de vomitar parte do “embriago”.

Incidentes como este, têm sido frequentes nos dias de hoje numa sociedade como a nossa, onde alega-se a falta de politicas para ocupação dos tempos livres para a juventude como bibliotecas e campos de jogos embora também já participei partidas de futebol que terminaram com uma forte bebedeira para comemorar. Infelizmente Angola é o destino de importadores de bebidas alcoólica, sem claro, nos esquecer da produção nacional, como é o caso das cervejas EKA, consumida principalmente na parte norte, N’GOLA, consumida na parte Sul e sem claro esquecermos a CUCA que já é considerada “Paixão Nacional”.

Com a constante produção de bebidas alcoólicas, vemos todos os dias mortes causadas por abuso de álcool pelo país à dentro. Ouvi de um amigo meu Holandês de gema que em seu país, as leis permitem apenas o uso de álcool somente à sexta e sábado, no sentido de não prejudicar o desempenho do serviço na segunda-feira. Desculpem-me a frontalidade, mas sou de opinião que em Angola abusa-se excessivamente o álcool. Não que seja por todos mas a maioria assim o faz.

Minha maneira realista de encarar as coisas também dá conta que a proibição da venda destes produtos pode influenciar a estabilidade económica do país. Claro que é uma autêntica fonte de receitas para muitas famílias que tem muitos membros e parte destes fora do emprego. Mas na medida que a produção aumenta, aumenta o lucro para ao fabricantes, que contribuem para o aumento do PIB (Produto Interno Bruto), aumenta o vandalismo influenciado pelo referido consumo e o pior aumentam mos casos em que famílias destroem-se porque os pais alcoólatras destratam os outros membros ou se não for o caso, gastam tudo em bebida esquecendo-se do que os filhos vão comer. “O limite é o chão”. E se beber fosse Campeonato?

* Radialista, Professor e Escritor