30/10/07

E Se beber fosse Campeonato?

Custódio Fernando *

Não se precisa ser um especialista em sociologia, para darmos conta de quão alcoolizada esta a sociedade angolana nos dias de hoje.

Quando há alguns dias decidi abandonar os escritório e dar com as vistas as artérias da minha cidade. Deparei-me com uma multidão cujo primeiro segurava ao colo uma menina que aparentava ter seus doze anitos. A primeira vista parecia que a criança teve um desmaio por algum problema de saúde. Bem, realmente desmaio teve mas não foi por problema de saúde. A multidão aproximava-se e era notável o nível de preocupação no rosto do senhor que a “liderava”, num números de quinze elementos entre familiares, vizinhos e até aquelas pessoas curiosas que com certeza queriam assistir de perto o desfecho da história da menina desmaiada.

Simultaneamente acabava de encostar bem em frente da multidão, um carro cujo dono é um director de uma unidade bancária em Malanje. E quando os espectadores pensavam que o tal “senhor” os havia de ajudar ou pelo menos tentar se inteirar sobre o que se passava, simplesmente fez ouvidos de mercador e nem se quer olhou ou pelo menos fingiu que não. No momento pensei logo numa história que minha falecida mãe me contava sobre o rico e o pobre. Mas esta também é uma outra história.

E sob olhar atendo dos curiosos que já tentava perguntar o que se passava, vimos a multidão desviar-se em direcção a um quintal onde num instante pensei que houvesse enfermeiro ou coisa assim, uma vez que temos em Angola um médico para cada mil habitantes, não era de esperar que aquilo fosse a casa do “médico da família” coisa que em Angola e para a maioria dos cidadãos não existe. A multidão desviou não em busca de enfermeiro; e porque Deus é mais Grande que a própria ignorância do “senhor director”, felizmente estava já em direcção ao seu carro o vizinho “visitado” que parecia já estar a esperar uma emergência.

E porque o comboio não espera passageiro, na medida que a multidão tentava convencer o dono do carro no sentido de apoia-los até ao hospital, eu continuava o percurso da minha caminhada em busca de ares fora dos escritório. Verdade seja dita, isso não me impediu de ouvir sobre o que realmente aconteceu momentos antes do certame. A menina emporcalhou-se com Whisky Dri Gin. Naquele momento e porque os primeiros socorros salvam vidas, algumas pessoas algo dotadas na matéria de desintoxicação alcoólica, aconselhavam a comitiva em fazer a paciente ingerir ovo cru no sentido de vomitar parte do “embriago”.

Incidentes como este, têm sido frequentes nos dias de hoje numa sociedade como a nossa, onde alega-se a falta de politicas para ocupação dos tempos livres para a juventude como bibliotecas e campos de jogos embora também já participei partidas de futebol que terminaram com uma forte bebedeira para comemorar. Infelizmente Angola é o destino de importadores de bebidas alcoólica, sem claro, nos esquecer da produção nacional, como é o caso das cervejas EKA, consumida principalmente na parte norte, N’GOLA, consumida na parte Sul e sem claro esquecermos a CUCA que já é considerada “Paixão Nacional”.

Com a constante produção de bebidas alcoólicas, vemos todos os dias mortes causadas por abuso de álcool pelo país à dentro. Ouvi de um amigo meu Holandês de gema que em seu país, as leis permitem apenas o uso de álcool somente à sexta e sábado, no sentido de não prejudicar o desempenho do serviço na segunda-feira. Desculpem-me a frontalidade, mas sou de opinião que em Angola abusa-se excessivamente o álcool. Não que seja por todos mas a maioria assim o faz.

Minha maneira realista de encarar as coisas também dá conta que a proibição da venda destes produtos pode influenciar a estabilidade económica do país. Claro que é uma autêntica fonte de receitas para muitas famílias que tem muitos membros e parte destes fora do emprego. Mas na medida que a produção aumenta, aumenta o lucro para ao fabricantes, que contribuem para o aumento do PIB (Produto Interno Bruto), aumenta o vandalismo influenciado pelo referido consumo e o pior aumentam mos casos em que famílias destroem-se porque os pais alcoólatras destratam os outros membros ou se não for o caso, gastam tudo em bebida esquecendo-se do que os filhos vão comer. “O limite é o chão”. E se beber fosse Campeonato?

* Radialista, Professor e Escritor

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